sábado, 14 de janeiro de 2017

FERNANDA LEITÃO 1936-2017


Chega-me de Toronto a notícia muito triste da morte, na noite de quinta-feira, dia 12, de Fernanda Leitão, jornalista, antiga proprietária e directora do Templário, um jornal de Direita que se publicou em Tomar e, no auge do PREC, vendia 60 mil exemplares por edição. Cansada de processos judiciais, nada menos que 150, por alegado abuso de liberdade de imprensa (alô Charlies), decidiu bater com a porta e radicar-se no Canadá em 1983. Enviava de Toronto as suas crónicas mensais, o que fez quase até ao fim da vida, execrando Passos Coelho e a política do governo PSD-CDS. Natural de Angola, de onde saiu ainda adolescente, fez-se jornalista, viajou, conheceu toda a gente que contava. Tinha 80 anos. Sim, era de Direita, mas eu não escolho os amigos pela ideologia. Até sempre, Fernanda.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

EUROSONDAGEM


Maioria de Esquerda = 54,6%. Sozinho, o PS ultrapassa a PAF. Clique na imagem do Expresso para ler melhor.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

RENTES DE CARVALHO


Hoje na Sábado escrevo sobre A Ira de Deus sobre a Europa, de J. Rentes de Carvalho (n. 1930). A edição portuguesa deste volume de memórias veio desconcertar os leitores que o descobriram quando a Quetzal apostou na publicação sistemática da sua obra. Quem se lembrava de Montedor (1968) ou de O Rebate (1971), livros inaugurais? Mas, nos últimos anos, a crítica tem estado atenta, e o público fez a fortuna de Ernestina (1998), romance entretanto reeditado, bem como dos contos reunidos na colectânea Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia (2011), bons exemplos de mestria ficcional. Surgia uma voz nova. A Ira de Deus sobre a Europa é outra coisa. Num prefácio ácido, escrito para a edição portuguesa, o autor descreve as peripécias censórias que rodearam a edição holandesa de 2008 (sem o actual prefácio), de várias formas boicotada pelos próprios editores. Reportando ao período compreendido entre 1956 e 2006, o volume leva por subtítulo Testemunho de Um Meio Século. Nesse prefácio, a propósito da vaga migratória que assola a Europa, Rentes de Carvalho invectiva o que considera «o hedonismo e a ausência de ideais» das sociedades ocidentais, em especial a holandesa, sobre a situação actual: «a Europa tem toda a aparência de presa fácil para um islão que, convicto da sua supremacia e decidido a vencer, não olha a meios nem sacrifícios para impor a sua ideologia. […] Pela sua atitude e ideologia os refugiados do Médio Oriente formam certamente uma ameaça […] o fluxo de refugiados africanos, calamidade de proporções bíblicas, prenuncia uma tragédia…» Houellebecq não diria melhor. Afinal, como defendia Neruda, todos temos o direito a entesourar os nossos equívocos. Estas memórias fazem o retrato dos tiques, carácter, hábitos e costumes dos holandeses e, em particular, de Amesterdão, cidade que há cinquenta anos escolheu para viver, começando por trabalhar nos serviços consulares brasileiros, antes de tornar-se escritor e professor universitário. Rigor e mordacidade: «um país grande na pornografia, na pedofilia, no comércio da droga [porém] campeão da moral.» A estratificação social e cultural é um item bem esgalhado. Por se tratar de um lugar-comum, não podemos dizer o mesmo da xenofobia anti-turca. Mérito maior: o desembaraço narrativo. Três estrelas. Publicou a Quetzal.

Escrevo ainda sobre Da Direita à Esquerda, onde o historiador António Araújo (n. 1966) analisa os últimos trinta anos da sociedade portuguesa, a partir da verificação de que a Esquerda, «mesmo quando se apresenta como radical, parece agora mais reconciliada com a estrutura de classes e de elementos de diferenciação de status…». O Estado Novo caiu em 1974 mas seria preciso esperar dez anos para a poeira assentar. Nos anos 1980 já não havia censura nem guerra colonial, mas, dos dois lados da barricada, o quadro mental tinha cristalizado no baile Patiño. Dito de outro modo, os eighties foram a nossa década prodigiosa. Muito se tem escrito sobre esses anos, mas só agora chegou às livrarias uma síntese coerente do que eles representaram. Ironia e fair play com toda a gente citada pelo nome. Certos “perfis” denotam pouca (ou nenhuma) empatia, mas ninguém pode queixar-se de assassínio de carácter. Escrita limpa e persuasiva. O espectro de temas é vasto: neoconservadorismo, imprensa, edição, lifestyle, memórias ultramarinas, linguagem abrasiva, Cultura, intelectuais, gentrificação, redes sociais, o Povo, «bricolage religioso», etc. Cento e vinte páginas de notas enquadram a narrativa. Inclui índice remissivo. Não há bonecada nem grafismo BD. Quatro estrelas. Publicou a Saída de Emergência.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O ADEUS A SOARES


Começam hoje as cerimónias fúnebres em honra de Mário Soares. O protocolo de Estado prevê que o corpo saia de sua casa, no Campo Grande, hoje pelas 11 da manhã, com destino ao Mosteiro dos Jerónimos. O cortejo será escoltado por 30 motos e 84 cavalos da GNR. O trajecto é o seguinte: Rua Dr. João Soares, Alameda da Universidade, Campo Grande, Avenida da República, Saldanha, Avenida Fontes Pereira de Melo, Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade, Restauradores, Rossio, Rua do Ouro, Rua do Comércio, Praça do Município (com paragem na Câmara de Lisboa), Rua do Arsenal, Terreiro do Paço, Avenida Ribeira das Naus, Cais do Sodré, Avenida 24 de Julho, Avenida da Índia e Praça do Império. O trânsito estará condicionado em todo este percurso. A chegada a Belém está prevista para as 13 horas. Chegado ao Mosteiro, o corpo ficará em câmara ardente na Sala dos Azulejos, até à meia-noite. A entrada é livre.

Amanhã, dia do funeral, o corpo sai dos Jerónimos às 13 horas, seguindo para o Cemitério dos Prazeres pela Rua de Belém, Praça Afonso de Albuquerque, Avenida da Índia, Avenida 24 de Julho, Avenida D. Carlos I, Rua de São Bento, Largo do Rato, Avenida Álvares Cabral, Rua de São Jorge, Rua da Estrela, Rua Domingos Sequeira, Rua Saraiva de Carvalho e Praça São João Bosco. Haverá paragens no Parlamento, na Fundação Mário Soares e na sede do PS (no Largo do Rato), onde ontem milhares de pessoas assinaram o livro de condolências.