sexta-feira, 29 de setembro de 2017

INDEPENDÊNCIAS UNILATERAIS


Tinha 16 anos quando Ian Smith declarou a independência unilateral da Rodésia do Sul, actual Zimbabwe. Era o 11 de Novembro de 1965. A aventura (o regime branco) durou até 18 de Abril de 1980, ou seja, catorze anos e cinco meses. Quando o bispo Abel Muzorewa lhe sucedeu, Smith continuou no país como líder da Oposição. Foi neste modelo que se inspiraram os secessionistas moçambicanos que fizeram o 7 de Setembro de 1974. Para quem como eu vivia em Moçambique, onde nasci, o caso rodesiano não era despiciendo, até porque o Reino Unido, potência colonial, fez aprovar nas Nações Unidas um bloqueio de combustíveis e outras sanções económicas. Navios de guerra britânicos foram enviados para águas territoriais portuguesas, ao largo da Beira, de forma a impedir a trasfega de petróleo para o pipeline que ligava aquela cidade moçambicana à Rodésia do Sul (a antiga Rodésia do Norte é a actual Zambia). O bloqueio durou anos, tendo provocado incidentes com vários navios. Mas, em Abril de 1966, o petroleiro grego Joanna V conseguiu iludir a Armada britânica e atracar, dando origem a um incidente diplomático de proporções homéricas. Harold Wilson, primeiro-ministro britânico, ameaçou Salazar com a ocupação de Moçambique. Smith veio a Portugal em segredo e, no Forte de São João do Estoril, terá acertado detalhes sobre a entrada do petróleo através da África do Sul. Não era tão eficaz como o pipeline da Beira, mas contornava o problema. Na praia do Macúti, os beirenses contavam anedotas sobre os navios de guerra na linha do horizonte.

Na imagem, a vermelho, o pipeline que liga a Beira a Harare, a antiga Salisbury. Clique.