quinta-feira, 6 de outubro de 2016

LITERATURA ADIADA

Só daqui a 10 ou 15 dias se saberá o nome do laureado com o Nobel da Literatura 2016. Motivo? Os dezoito membros da Academia Sueca de Literatura estão profundamente divididos a discutir frioleiras do tipo... tem de ser uma lésbica declarada, tem de ser um negro, tem de ser um homossexual não encapotado, não pode ser um WASP com reconhecimento planetário, etc. É uma pena Claudio Magris não preencher nenhum destes itens.

Quando pensamos nas nulidades que a Academia Sueca tem distinguido (sirva de exemplo, por todos, Patrick Modiano), o facto de Magris, Rushdie, Philip Roth, Joyce Carol Oates, John Banville, Hilary Mantel, Richard Ford, David Grossman, Edward St Aubyn e outros continuarem no limbo, faz temer o pior. A ver vamos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

GUTERRES


Guterres é na prática o próximo secretário-geral das Nações Unidas. Na votação hoje realizada, a sexta, o antigo primeiro-ministro obteve o voto de 13 dos 15 membros do Conselho de Segurança. Houve duas abstenções. Nenhum veto, nem sequer um voto contra. Ironia: foi Vitaly Churkin, o embaixador russo, quem fez o anúncio oficial. Amanhã de manhã realiza-se a votação em plenário da Assembleia-Geral, durante a qual Guterres deverá ser confirmado por aclamação.

A búlgara Kristalina Georgieva, vice-presidente da Comissão Europeia e candidata de última hora, divulgou entretanto um statement a felicitar Guterres. Lembrar que Kristalina foi imposta por Merkel e apoiada por Jean-Claude Juncker, pelo Partido Popular Europeu, pela diplomacia russa e por um subalterno português de Durão Barroso cujo nome não me ocorre.

Clique na imagem.

MAAT


Foi ontem inaugurada, com pompa e circunstância, a extensão do MAAT — Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, da Fundação EDP. Faz-me confusão que uma obra que só fica pronta daqui a seis meses tenha sido inaugurada. Neste momento, no edifício concebido pela arquitecta britânica Amanda Levete, apenas pode ver-se uma exposição, Pynchon Park (escultura, som, luz, performance), da francesa Dominique Gonzalez-Foerster. A obra insere-se no tema Utopia/Distopia. Em todo o caso, ainda tem doze dias para ver, na Central Tejo, as magníficas fotografias com que Edgar Martins dá corpo a Siloquies and Soliloquies on Death, Life and Other Interludes. Edgar Martins nasceu em Évora, em 1977, mas foi ainda criança para Macau, vivendo ali até 1996, ano em que foi estudar para Londres, onde continua a viver. Actualmente é um dos mais conceituados fotógrafos da sua geração, com obras representadas em colecções e museus dos dois lados do Atlântico. Se clicar na imagem, confere o que pode ver em cada um dos edifícios do MAAT.

RAFAEL CHIRBES


Hoje na Sábado, que saiu um dia mais cedo por ser feriado, escrevo sobre Paris-Austerlitz, romance póstumo do espanhol Rafael Chirbes (1949-2015). O livro reitera o óbvio: o conjunto da obra do autor, dez romances e quatro volumes de ensaios, é um dos mais consistentes da literatura contemporânea em língua castelhana. Chirbes não teve pressa. Tinha 39 anos quando publicou o primeiro livro, e estava morto quando o último saiu dos prelos. Fosse qual fosse o assunto, o apego à realidade foi constante. Sirvam de exemplo a bolha imobiliária espanhola e a ulterior crise da dívida soberana, tópicos que deram azo a romances notáveis. Paris-Austerlitz tem outro enfoque. À beira de morrer, Chirbes entregou ao editor o que podemos considerar o seu testamento autobiográfico. Quem leu o livro de estreia, Mimoun (1988), percebe que o ciclo se fechou. Estamos de volta aos temas centrais: homossexualidade, doença, solidão. Antes de regressar a Madrid, o narrador discorre sobre o carácter de Michel, o antigo amante, a morrer com sida num hospital de Rouen. O retrato de um certo meio por interposto ajuste de contas. Chirbes não divaga nem doura a pílula, tudo tem a exactidão das evidências. Saudar a tradução de Rui Pires Cabral, que soube escolher as palavras exactas. Quatro estrelas.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

UM ANO

Faz hoje um ano tudo mudou na política portuguesa. O arco da governação alargou de três para seis partidos e, com um atraso de 40 anos, o eleitorado foi obrigado a perceber o óbvio: o Governo emana do Parlamento. O resto é semântica.