quinta-feira, 22 de setembro de 2016

MATHIAS ENARD


Hoje na Sábado escrevo sobre Bússola, do francês Mathias Enard (n. 1972), prémio Goncourt 2015. Publicado em França no ano passado, Bússola segue o ar do tempo, que o mesmo é dizer, a querela que opõe Ocidente e Oriente a reboque da guerra civil na Síria, país onde alemães, franceses e espanhóis dividiam entre si os campos de petróleo. Dito de outro modo, a jihad explicada aos incréus. Para contextualizar, Enard cita dezenas de autores e personagens («Hercule Poirot, o herói de Agatha Christie…»), cruza factos históricos, como por exemplo a colonização do Médio Oriente por parte das potências ocidentais, ponto de partida de todos os males. A mnemónica de Franz Ritter, o narrador, é pontuada com passagens vagamente eróticas («Sulco o seu corpo esguio, musculado…»), uma sobrecarga de referências culturalistas («No oriente do Ocidente, como diz Pessoa») e, sobretudo, muita retórica de salão parisiense. Nem Lou Andreas-Salomé e Peter Fleming escapam ao inventário. Os costumes da sociedade iraniana trazem Verlaine à colação por via de um exame proctológico. Afinal, para a República Islâmica do Irão, público e privado confundem-se. Hitler também entra na intriga. Duas estrelas. Publicou a Dom Quixote.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

O IMPOSTO DA MARIANA

Desde 2012, por iniciativa do Governo PSD/CDS, a Tabela Geral do Imposto do Selo abrange o património de luxo. Nos termos da lei, «os proprietários, usufrutuários e superficiários de prédios urbanos sitos em Portugal, cujo valor patrimonial tributário seja igual ou superior a um milhão de euros...», pagam uma taxa de imposto de 1%. Em tratando-se de prédios detidos por sociedades residentes em paraísos fiscais essa taxa é de 7,5%. Este imposto não exclui o IMI. É obrigatório pagar o IMI mais o imposto adicional. Se a lei é cumprida, ou não, é outro campeonato.

Esta realidade acentua o carácter leviano do statement da deputada Mariana Mortágua, que não foi a primeira, nem será a última, a não saber estar calada (vale para gente de todos os partidos). Subscrevo as declarações de Fernando Medina, que foi de meridiana clareza. Disse o Presidente da Câmara de Lisboa: Não é bom ter deputados a apresentar medidas importantes. Isso cabe ao ministério das Finanças no tempo próprio.

Lembrar que, segundo dados da Autoridade Tributária, o IRS pago pelas novecentas famílias mais ricas de Portugal (as que detêm património superior a 25 milhões de euros ou rendimento médio anual acima de 5 milhões) corresponde a 0,5% do total imposto cobrado. Os restantes 99,5% são pagos pela classe média, porque os pobres estão isentos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

BÍBLIA DA QUETZAL?


Chega esta semana às livrarias o primeiro dos seis volumes da Bíblia traduzida do grego por Frederico Lourenço. Um acontecimento. Mas não é, como lhe chama o Diário de Notícias, a Bíblia da Quetzal. É a Bíblia publicada pela Quetzal. É provável que, em conversa despreocupada, o autor tenha utilizado a expressão. Mas o jornalista, ao transcrever, deveria ter feito a precisão. Acredito que Frederico Lourenço tenha sido o primeiro a ficar de cabelos em pé ao descobrir que há uma Bíblia da Quetzal. Clique na imagem.

NOVELA DO ABSURDO

Afinal, a revelação de que Joaquim Paulo Conceição teria subornado Sócrates com não sei quantos milhões (ver manchete do Correio da Manhã de sexta-feira), não passa de uma conjectura do procurador Rosário Teixeira, do Ministério Público. O presidente do Grupo Lena disse exactamente o contrário. E reagiu à notícia: «Nunca houve qualquer pagamento. Mentiras absurdas e inventadas não é jornalismo. É crime e têm de ser punidas.» O jornal já se retratou.