sábado, 12 de março de 2016

INSULTO

Chamar geringonça ao Governo é uma boutade. Chamar geringonça ao Parlamento, como o Público faz hoje, é um insulto a todos os portugueses.

sexta-feira, 11 de março de 2016

EUROSONDAGEM


Sondagem do Expresso e da SIC divulgada há pouco. Esquerda — 52%. Direita — 40%. Partido a partido, é assim: PS — 35%. PSD — 32%. BE — 9,2%. CDS — 8%. CDU — 7,8%. António Costa é o líder mais popular. Clique na imagem.

BRASIL

O Ministério Público de São Paulo pediu a prisão de Lula da Silva. O antigo presidente do Brasil é acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. A mulher e o filho Fábio também foram indiciados. Uma juíza vai decidir nas próximas horas se aceita a denúncia. Não é segredo que Lula tenciona candidatar-se às presidenciais de 2018. Onde é que nós já vimos isto? Dilma Rousseff terá confidenciado no seu inner circle que a Presidência chegou ao fim. Invocando o “interesse nacional”, a imprensa pede abertamente a intervenção das Forças Armadas para depor Dilma e fechar o Senado e o Parlamento.

A história repete-se: em Março de 1964, Goulart foi derrubado por um golpe militar apoiado pela alta-finança, a burguesia industrial paulista, os grandes proprietários rurais e a Igreja. Instaurada a 31 de Março de 1964, a ditadura militar só acabou a 15 de Março de 1985, com a posse de Sarney. Foram 21 anos de terror.

quinta-feira, 10 de março de 2016

ELIZABETH BOWEN


Hoje na Sábado escrevo sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen (1899-1973), autora de uma obra extensa, que inclui ficção e ensaio, mas não cativou os editores nacionais. A Casa em Paris, agora traduzido, resgata a obra de um silêncio apenas interrompido pelas reedições de A Morte do Coração. É provável que o conservadorismo político tenha pesado no desinteresse. O romance começa e termina no dia da chegada de Henrietta a Paris, durante a Primeira Grande Guerra. Henrietta tem onze anos, nunca antes havia saído de Inglaterra, e está em trânsito para casa da avó, no Sul da França. Apesar do cansaço da viagem, a noite inteira metida num comboio, tem a noção de como a sua vida vai mudar. A história está dividida em três partes, correspondendo a do meio a um flashback de dez anos que serve de guia para factos que dizem respeito às origens de Leopold, o amiguinho mais novo que espera conhecer a mãe que nunca viu. Por mero acaso, Henrietta e Leopold partilham o dia em casa da senhora Fisher. A fórmula fora já utilizada em Friends and Relations, um romance anterior de Bowen. É muito interessante verificar como esse capítulo de intervalo, espécie de monólogo interior, em grande medida construído pela imaginação, serve de cimento à estrutura romanesca. Não por acaso, a última frase da primeira parte — «A tua mãe não vem; não pode vir» — é a mesma que abre a terceira. Sem necessidade de recurso a tiradas enfáticas, Bowen é letal na dissecação da sociedade britânica da primeira metade do século XX. Esta mulher discreta, que privou com os bloomsberries e teve amantes de ambos os sexos, escreveu um romance admirável sobre identidade, solidão e maturidade precoce. Até que ponto o destino de Karen (e, por consequência, o de Leopold) foi o corolário dos “princípios” da senhora Fisher? Que o jogo de espelhos seja intuído por duas crianças, ao mesmo tempo que desfaz os mitos associados à inocência, ilustra bem o ponto de vista de Bowen face a juízos morais retrógrados. Por último mas não em último, sublinhar a elegância com que Bowen manipula os demónios de cada um. Cinco estrelas.

Escrevo ainda sobre A Última Noite e Outras Histórias, de James Salter (1925-2015). Traduzido pela primeira vez no ano passado, quem leu Tudo o que Conta verificou que a fasquia é muito alta. Os contos de A Última Noite e Outras Histórias aí estão para o corroborar. Richard Ford faz a síntese perfeita: «Frase a frase, Salter é o mestre.» Não há outra forma de colocar a questão. Salter, que durante doze anos foi piloto de guerra, e depois guionista de cinema até dedicar-se a tempo inteiro à literatura, deixou uma Obra admirável que inclui ficção, poesia, ensaio e memórias. Coligindo contos de duas colectâneas, A Última Noite e Outras Histórias ilustra o seu virtuosismo. Como retratada pelo autor, a realidade surpreende-nos com os saltos no tempo do plot, mesmo quando parecem (e algumas vezes são) descrições elípticas de episódios triviais: «O ar era puro e fresco. Fazia parte daquela grande e inalterada ordem de pessoas que vivem do seu salário, em cujo mundo não há luz, e que não têm noção do que se passa acima deles.» Notável. Cinco estrelas. Publicou a Livros do Brasil.

quarta-feira, 9 de março de 2016

HABEMUS PRESIDENTE


Cavaco Silva saiu de cena. Chegou hoje ao fim um período negro da História de Portugal. O cavaquismo representa tudo o que de pior a Democracia alimenta. Cavaco deixa Belém ao fim de dez anos de facciosismo, intriga e prepotência. O homem que fracturou o país em dois não deixa saudades.

Marcelo Rebelo de Sousa tomou posse perante os deputados da Nação e umas centenas de convidados, entre os quais Filipe VI, rei de Espanha; Filipe Nyusi, presidente da República de Moçambique; Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, um representante do rei de Marrocos e o antigo presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso.

Retenho dois breves períodos do discurso que fez: «Temos de cicatrizar feridas destes tão longos anos de sacrifícios, no fragilizar do tecido social, na perda de consensos de regime, na divisão entre hemisférios políticos. [...] O Presidente da República é o Presidente de todos. Sem promessas fáceis ou programas que se sabe não pode cumprir, mas com determinação constante. Assumindo, em plenitude, os seus poderes e deveres. Sem querer ser mais do que a Constituição permite. Sem aceitar ser menos do que a Constituição impõe

O tom da cerimónia foi dado no modo como chegou à Assembleia da República: a pé. Neste momento, depois dos cumprimentos protocolares, almoça no Palácio de Belém com um pequeno grupo (vinte pessoas) de convidados, entre eles o presidente do Parlamento, o primeiro-ministro, o rei de Espanha e o presidente da República de Moçambique. Passos Coelho, convidado, faltou.

A meio da tarde, Marcelo participará numa celebração ecuménica na Mesquita de Lisboa, cerimónia que juntará representantes de duas dezenas de confissões religiosas.

Às oito da noite, Marcelo será recebido por Fernando Medina na Câmara de Lisboa. Mariza cantará o hino nacional, seguindo-se um concerto popular na Praça do Município, durante o qual actuam Anselmo Ralph, Diogo Piçarra, José Cid, Paulo de Carvalho, Pedro Abrunhosa e a banda HMB.

Foto da Presidência da República. Clique.

segunda-feira, 7 de março de 2016

O ESTADO DA NAÇÃO

Uma sondagem da Aximage para o Correio da Manhã e o Jornal de Negócios, divulgada esta noite, apresenta os seguintes resultados: Esquerda — 51,7%. Direita — 38,3%.

Partido a partido, é assim: PSD — 36,1%. PS — 33,8%. BE — 11,3%. CDU — 6,6%. Para 47,6% dos inquiridos, António Costa é o preferido para primeiro-ministro (Passos Coelho fica com 41,6%). Mário Centeno é o ministro mais popular, seguido de Adalberto Campos Fernandes, o titular da Saúde. João Soares é o mais impopular. A actuação do Governo corresponde às expectativas de 50,9% dos inquiridos, ultrapassa essas expectativas para 19,9% e fica aquém delas para 23,2%.

ESPANHA

Salvo um volte-face de última hora, a intransigência do PODEMOS em viabilizar um Governo do PSOE vai levar Espanha a novas eleições e, provavelmente, a uma vitória da Direita. Sucede que Pablo Iglesias, o rapaz do rabo-de-cavalo, esqueceu um detalhe importante: os ayuntamientos de Madrid, Barcelona, Zaragoza, A Coruña, Santiago, Ferrol e Cádiz têm executivos de Esquerda porque o PSOE os apoia. Ontem, Pedro Sánchez, o líder do PSOE, fez saber que esse apoio será retirado se o PODEMOS não mudar de agulha a tempo de evitar eleições. Estamos a falar de um prazo muito curto (48 horas?) para evitar o descalabro.

domingo, 6 de março de 2016

O RETRATO


Vai por aí um estendal de juízos morais com o facto de ser Barahona Possollo o autor do retrato oficial de Cavaco que figurará na galeria dos Presidentes do palácio de Belém. Pouca gente saberá que Barahona Possollo é o autor da maioria dos selos que os CTT emitem desde os anos 1990 (um exemplo: a série comemorativa do 5.º centenário da viagem de Vasco da Gama). E que existe na Casa Branca um retrato de George Washington de sua autoria. E que o retrato de Cavaco foi escolhido por um júri informal: havia dois retratos, de dois autores, e um grupo de 40 pessoas, sem saberem quem tinha pintado o quê, e sem falaram entre si (a passagem de uma sala para outra impedia conversas prévias à escolha), indicavam a sua preferência. Terá sido isto.

Não é fácil ir à Casa Branca ou ao andar da administração do Banco de Portugal, mas o Museu de Setúbal fica aqui a dois passos. Se eu gosto do retrato? O tinteiro é um disparate, o resto é o trivial. Já agora: Cavaco não tem a mão sobre um exemplar da Bíblia, como se anda a dizer por aí. Os volumes ao alto são a Constituição da República e A Riqueza das Nações, de Adam Smith. Clique na imagem.