sábado, 17 de outubro de 2015

O FOLHETIM

Ouvi em diferido a entrevista que António Costa deu ontem à noite a Pedro Pinto, na TVI. Não pude deixar de registar que Costa deu a entender que Passos & Portas escondem dos portugueses algo de muito grave em matéria económica (ele, Costa, tomou conhecimento do facto durante as reuniões que manteve com ambos). Lembrar que o secretário-geral do PS enviou ontem ao primeiro-ministro uma carta de seis páginas, acompanhada de um “caderno de encargos” com catorze páginas, contendo o essencial das exigências do PS. A ver vamos como termina o folhetim.

FACTOS A RETER


1 — À saída do avião que o trouxe de Paris, Sócrates foi preso a 21 de Novembro de 2014, véspera da eleição de António Costa como secretário-geral do PS. 2 — A 7 de Junho de 2015, Sócrates recusou a prisão domiciliária com pulseira electrónica. 3 — Em 4 de Setembro, Sócrates deixou a prisão de Évora e foi para casa sem pulseira electrónica. 4 — Em 24 de Setembro, o Tribunal da Relação de Lisboa mandou levantar o segredo de Justiça ao processo que envolve Sócrates, declarando nulos todos os actos posteriores a 15 de Abril de 2015. Por unanimidade, o acórdão refere que Sócrates foi vítima de truques do MP. 5 — Sócrates foi votar, no passado dia 4, sem escolta policial e sem ter pedido autorização ao juiz. 6 — Sócrates foi libertado ontem, 16 de Outubro, ficando impedido de sair do país sem autorização prévia. 7Acusação? Não existe.

A imagem é do Diário de Notícias. Clique.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

POR FIM


Sem comentários. A imagem é do Público. Clique para ler melhor.

ESCREVER DE OUVIDO

Vamos dar de barato que os jornalistas não são obrigados a saber História, nem sequer a dos últimos trinta anos. Nessa medida, devem abster-se de disparates. Como é que o editor de política do Público deixou passar este parágrafo assinado por Sofia Rodrigues:

«Na coligação, o entendimento é o de que será um acordo que servirá para “suplantar” os resultados eleitorais e que não foi aceite no passado em situações semelhantes [...] até por Mário Soares, que em 1987, quando era Presidente da República, recusou um acordo entre PS, PRD e apoio parlamentar do PCP, preferindo dar posse ao governo minoritário de Cavaco Silva

Factos: Soares não deu posse a nenhum governo minoritário em 1987. Esse governo vinha de 1985. O que Soares não aceitou, em 1987, foi substituir o Governo de Cavaco por um Governo de Constâncio. A 3 de Abril de 1987, o PRD apresentou uma moção de censura ao Governo, a qual foi aprovada pelo conjunto da Esquerda. O Governo caiu. E Soares, recusando um novo governo (Constâncio com apoio parlamentar do partido de Eanes) sem eleições prévias, dissolveu o Parlamento, convocando eleições para 19 de Julho. Nessas eleições, Cavaco obteve a sua primeira maioria absoluta.

Escrever de “ouvido” nunca dá bom resultado.

ÁUGURES

Em Julho de 2004, Sampaio manteve o país em suspenso antes de decidir se aceitava a solução dinástica de substituir Barroso por Santana. Durante três semanas, não houve cão nem gato que não fosse a Belém. Alguns até foram duas vezes: primeiro sozinhos, depois para a reunião do Conselho de Estado. Agora são os jornais que todos os dias entrevistam constitucionalistas a propósito da legitimidade do PR indigitar (ou não) António Costa para chefiar um Governo do PS com apoio parlamentar do BE, do PCP, do PEV e do PAN — ou seja, por uma maioria de 123 deputados. 

Impedidos, face à letra da Constituição, de dizer que a indigitação de Costa seria ilegal, a maioria desses constitucionalistas faz o pino para ilustrar juízos de intenção: ‘os eleitores do PS isto... os eleitores do PS aquilo… etc.’ Estes cavalheiros falaram com todos e cada um dos 1,7 milhões de eleitores do PS para saberem o que eles pensavam no acto de votar? Não ocorreu a estes cavalheiros que foi a natureza  “conciliadora” do programa do PS que levou votantes tradicionais do partido a votarem no BE (o que explica o salto de 8 para 19 deputados), de modo a forçar, presumo, e talvez presumissem eles, a criar as condições para um Governo apoiado numa maioria de esquerda?

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

FERNANDO VENÂNCIO


Hoje na Sábado escrevo sobre Beijo Técnico e Outras Histórias, de Fernando Venâncio (n. 1944), mais conhecido como linguista e crítico literário, mas também tradutor de Gerrit Komrij e autor de crónicas, ensaios, contos e romances. Radicado na Holanda desde 1970, a docência universitária no estrangeiro afastou-o de Portugal, fazendo dele um outsider do Meio. Não é caso único. Aconteceu o mesmo com José Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena, Alberto de Lacerda, Rentes de Carvalho e outros. Acabado de publicar, Beijo Técnico e Outras Histórias colige setenta e seis narrativas breves, ou contos curtos (se preferirem), um punhado de haikus aqui, outro ali: «Tragédia familiar: O genro ideal casou ontem com um colega.» Venâncio radiografa em tom menor o quotidiano das pessoas comuns: expectativas, surpresas, equívocos, ambição, humores, traições: «O miúdo nasceu assim prò claro. Muito clarinho mesmo […] que diria o esbelto negro quando, passado um mês, regressasse do mar?» Nenhuma ênfase, e uma discreta ironia nos interstícios da prosa, como no excelente Les Mecs, retrato subtil do mundo sem fronteiras. Um dos textos reproduz um e-mail escrito e enviado em 2012 a Pedro Chagas Freitas, que escreveu um livro «em directo, e com contributos de amigos». A nota de rodapé não esclarece se Fantasmas faz parte do referido livro. Três estrelas.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

DISCURSO DIRECTO, 19

António Costa ao Financial Times. Excertos:

«The PS is the most pro-European party in Portugal. Faced with the radicalism of the current government and the brutal measures the country has suffered, there now exists the possibility of rolling back austerity without calling our international obligations into question. We’re not bluffing, but acting in good faith. Negotiations [with the left] on the creation of a new government led by the PS. This is like tearing down the last remains of a Berlin Wall. The PS has not moved to the side of the anti-European parties, rather they have agreed to negotiate a common government programme without putting Portugal’s commitments as an active member of the eurozone at risk. Almost 62 per cent of the electorate voted for a change. The rightwing coalition cannot carry on as if nothing has happened

O jornal sublinha: «However, parties to the left of centre won a majority of seats in parliament, making the Socialists pivotal power brokers and giving Mr Costa a crucial role in deciding who will govern next.»

terça-feira, 13 de outubro de 2015

O CÉU É O LIMITE


Quando forem seis da tarde, Passos & Portas vão ao Rato apresentar 23 medidas (e não 20 como estava previsto) para que o PS aceite viabilizar um Governo do PSD-CDS. Como num passe de mágica, o céu é o limite. Passos promete aumentar o salário mínimo, pôr de lado o plafonamento de pensões, suspender o anunciado corte de 600 milhões de euros na Segurança Social, rever o factor de sustentabilidade, devolver já em 2016 a sobretaxa de IRS, acabar com os cortes de salários na Função Pública, actualizar o abono família (sobretudo para famílias monoparentais), flexibilizar a exigência da condição de recurso nas prestações sociais, etc. Mais valia terem concorrido com o programa do PS.

Foto de Luís Barra para o Expresso. Clique.

DA LEGITIMIDADE

Consta que Cavaco estará a ser fortemente pressionado para não dar posse a um Governo do PS com apoio parlamentar do BE, do PCP e do PEV. A linha dura da Direita e interesses correlatos insiste: Passos deve formar Governo com apoio do PSD e do CDS, mantendo-se em funções mesmo que seja chumbado no Parlamento (e, portanto, incapacitado de fazer aprovar o OE 2016), realizando-se eleições no início do próximo Verão.

Vamos por partes: não estou a ver Costa partir para a formação de um Governo com apoio parlamentar do BE, do PCP e do PEV sem primeiro ser mandatado pela Comissão Nacional do partido. Obtido esse mandato, presumo que vá a Belém munido de um acordo formal, assinado por ele, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. Feito isso, não vejo como o PR pudesse optar por outra solução. Não esquecer que foi ele, Cavaco, quem chamou a atenção para a existência, na UE, de coligações pré e pós-eleitorais de todo o tipo. Seja como for, nada disso impedirá novas eleições em 2016. Mas o intervalo permitiria aprovar o OE e legislar à esquerda. A ver vamos.

E PUR SI MUOVE!

A reunião de Costa com Passos & Portas voltou a ser agendada para hoje mas, ao longo do dia, uma delegação do PS, constituída por Mário Centeno, Pedro Nuno Santos e Adalberto Campos vai reunir-se com uma delegação do PCP para afinar aspectos técnicos de um programa de Governo. Amanhã, com igual propósito, a mesma delegação reúne com o BE. Ainda hoje, outra delegação do PS, constituída por Ana Catarina Mendes, Matos Fernandes e Helena Freitas, reúne com o PEV.

Sobre a reunião do PS com a PAF prevista para as 18:00, lembrar que só ontem a meio da tarde chegou ao Rato um «documento facilitador de compromisso», no qual PSD e CDS mostram abertura para acertar agulhas em matérias como o fim da austeridade, o Estado Social, a política europeia, bem como o investimento em ciência, inovação e cultura.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

PRESTO OU VIVACE?


Entretanto, António Costa adiou a reunião, prevista para amanhã, com Passos e Portas. Às quatro da tarde é recebido pelo Presidente da República. Clique na imagem do Expresso.