sábado, 29 de agosto de 2015

CONVÉM ESCLARECER

As afirmações de Paulo Rangel no acantonamento do PSD em Castelo de Vide têm de ser esclarecidas por Passos Coelho, como exige o PS, mas também pela Procuradora-Geral da República. Porque o que o eurodeputado do PSD disse, preto no branco, foi que o Ministério Público cumpre ordens do Governo que estiver em funções. Tão simples como isto. Terá Paulo Rangel, secretário de Estado adjunto do ministro da Justiça no XVI Governo Constitucional (2004-05), advogado e eurodeputado, informação privilegiada?

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

LUXO NA RIBEIRA

Há dois anos foi a Central Station, um conglomerado de startups, a ocupar parte do imenso edifício cor-de-rosa da Praça D. Luiz onde a partir de 1953 funcionou a Central Telefónica e Telegráfica de Lisboa, que mais tarde passou a Estação Central de Correios. Agora vai ser um condomínio de apartamentos de luxo assinados por um gabinete de arquitectos famosos. A 50 metros, o edifício ao lado da Roche Bobois sofre idêntica intervenção. É impressão minha ou de repente virou tudo milionário?

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

PRIMEIRO PASSO


Merkel deu o primeiro passo: suspendeu as regras, em vigor na UE desde 1990, que filtram o acesso de migrantes. Deste modo, a Alemanha abre as portas aos refugiados da Síria, do Iraque, do Afeganistão, etc., qualquer que tenha sido o método utilizado por eles para chegarem às fronteiras alemãs. A França e a Itália ficam, digamos, obrigadas a fazer o mesmo. A imagem é do Independent. Clique.

CONVINHA REEDITAR, 4


A maior parte dos portugueses nunca ouviu falar de João Pedro Grabato Dias, pseudónimo literário do pintor António Quadros (1933-1994), que começou por ser professor da Escola Superior de Belas Artes do Porto, depois andou por Paris como bolseiro da Gulbenkian, para de seguida radicar-se em Lourenço Marques, onde viveu durante vinte anos (1964-84) e se revelou poeta em 1968. Toda a obra foi publicada em Moçambique. António Quadros, de seu nome completo António Augusto Melo de Lucena e Quadros, é autor da letra de alguns dos maiores êxitos de Zeca Afonso, que também viveu em Moçambique (1964-67), onde, por intermédio de Rui Knopfli, conheceu e fez amizade com o futuro autor de Qvybyrycas.

Com extenso e corrosivo prefácio de Jorge de Sena, que em 1972 andou por Moçambique, Qvybyrycas foi publicado para assinalar os 400 anos da publicação de Os Lusíadas. António Quadros, já então autor de quatro livros assinados como Grabato Dias, publicou a obra com o heterónimo Frei Ioannes Garabatus.  (Em 1975, no auge da descolonização, inventaria outro, Mutimati Barnabé João, suposto guerrilheiro da Frelimo e autor de Eu, o Povo.) Aos 10 cantos e 1102 estâncias do poema de Camões, Garabatus opôs 11 cantos e 1180 estâncias. Esse acréscimo de um canto e 78 estâncias não foi inocente, como Sena explica com detalhe. Não há equivalente na poesia portuguesa mas a crítica universitária assobiou para o lado e a outra não deu por nada.

Em Portugal, Qvybyrycas foi reeditado em 1991, tendo o seu Terceiro Canto sido impresso em 1998 num dos livrinhos da Expo 98. É talvez chegada a hora de voltar a dar o livro à estampa. Clique na imagem.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

PESADELO

Só em Julho, cerca de 110 mil pessoas atravessaram o Mediterrâneo para entrar na Europa. Em 2014 foi um terço deste número. É a maior vaga migratória dos últimos 70 anos. Até há poucos meses vinham da Líbia, embora nos barcos da morte com destino a Lampedusa viessem refugiados de outros países do Magreb. Agora tudo mudou. Oriundos da Síria, do Iraque, do Afeganistão, da Eritreia, do Sudão e do Paquistão, dezenas de milhares de refugiados (um estatuto que não faz sentido aplicar aos paquistaneses) atravessaram a fronteira da Grécia com a Macedónia, onde foram metidos em comboios com destino à Sérvia. Vão esbarrar no muro que a Hungria colocou na frontreira. Ao pé disto, o que se passa em Calais e no Túnel da Mancha é pouco mais que um faits divers. Merkel e Hollande vão hoje discutir o assunto.

HERMÍNIO MARTINS 1934-2015


Morreu em Oxford o sociólogo Hermínio Martins, «o único cientista social português da sua geração conhecido na comunidade científica internacional», na síntese de António Costa Pinto. De tal modo que hoje é um nome central das ciências sociais no Reino Unido. Natural de Lourenço Marques, deixou Moçambique no início dos anos 1950 para estudar na London School of Economics, onde foi aluno de Popper e Michael Oakeshott. Professor em várias universidades, como Leeds e Harvard, fixou-se em Oxford, tendo leccionado no St Antony’s College entre 1971 e 2001. O óbito terá ocorrido no passado dia 19, mas só agora foi divulgado em Portugal. O essencial da obra está publicada em língua inglesa, mas talvez fosse altura de reeditar Hegel, Texas e Outros Ensaios de Teoria Social (1996) e Classe, Status e Poder e Outros Ensaios sobre o Portugal Contemporâneo (1998). Suponho que Experimentum Humanum. Civilização Tecnológica e Condição Humana (2011) não esteja esgotado. E, claro, aguardar a publicação de um volume inédito, escrito em inglês, onde Martins cruza três datas-chave da vida portuguesa: 5 de Outubro de 1910, 28 de Maio de 1926, 25 de Abril de 1974. A imagem é do site do St Antony’s College. Clique.