quinta-feira, 13 de agosto de 2015

HÉLIA CORREIA


Hoje na Sábado escrevo sobre O Separar das Águas e Outras Novelas, de Hélia Correia (n. 1949), que junta neste volume o livro de estreia — o que dá o título ao conjunto — com Villa Celeste e Soma, três novelas de 1981, 1985 e 1987, respectivamente. Era bom que o Prémio Camões, que este ano lhe foi atribuído, contribuísse para chamar a atenção para a obra de uma autora avessa a holofotes e uma das grandes vozes da literatura portuguesa contemporânea. Os que descobriram Hélia Correia há poucos anos, fosse num romance como Adoecer, ou nos poemas magníficos de A Terceira Miséria, queixando-se da dificuldade em encontrar os livros mais antigos, podem agora começar do princípio. Quando pela primeira vez se publicou, O Separar das Águas trouxe consigo uma voz singular, devedora de algum realismo fantástico, porém isento de mimetismo. A obra futura deu outra tonalidade à dimensão profética, mas, por enquanto, toda a ênfase fará de Vilerma um retrato do estupor do país que vivia entalado entre o estertor da República, as aparições de Fátima e o triunfo dos bolcheviques. Uma escrita rica de harmónicas acentua a polifonia do discurso narrativo, qualquer que seja a realidade ficcionada (e neste caso são três, sem correlação entre si) pela trilogia. Exemplar. Quatro estrelas e meia.