quarta-feira, 26 de agosto de 2015

CONVINHA REEDITAR, 4


A maior parte dos portugueses nunca ouviu falar de João Pedro Grabato Dias, pseudónimo literário do pintor António Quadros (1933-1994), que começou por ser professor da Escola Superior de Belas Artes do Porto, depois andou por Paris como bolseiro da Gulbenkian, para de seguida radicar-se em Lourenço Marques, onde viveu durante vinte anos (1964-84) e se revelou poeta em 1968. Toda a obra foi publicada em Moçambique. António Quadros, de seu nome completo António Augusto Melo de Lucena e Quadros, é autor da letra de alguns dos maiores êxitos de Zeca Afonso, que também viveu em Moçambique (1964-67), onde, por intermédio de Rui Knopfli, conheceu e fez amizade com o futuro autor de Qvybyrycas.

Com extenso e corrosivo prefácio de Jorge de Sena, que em 1972 andou por Moçambique, Qvybyrycas foi publicado para assinalar os 400 anos da publicação de Os Lusíadas. António Quadros, já então autor de quatro livros assinados como Grabato Dias, publicou a obra com o heterónimo Frei Ioannes Garabatus.  (Em 1975, no auge da descolonização, inventaria outro, Mutimati Barnabé João, suposto guerrilheiro da Frelimo e autor de Eu, o Povo.) Aos 10 cantos e 1102 estâncias do poema de Camões, Garabatus opôs 11 cantos e 1180 estâncias. Esse acréscimo de um canto e 78 estâncias não foi inocente, como Sena explica com detalhe. Não há equivalente na poesia portuguesa mas a crítica universitária assobiou para o lado e a outra não deu por nada.

Em Portugal, Qvybyrycas foi reeditado em 1991, tendo o seu Terceiro Canto sido impresso em 1998 num dos livrinhos da Expo 98. É talvez chegada a hora de voltar a dar o livro à estampa. Clique na imagem.